Durante uma nova entrevista ao programa Tomando Uma Água, do canal Futeboteco, o cantor Nando Reis (Titãs), foi questionado a respeito do episódio com Nasi, vocalista do Ira!, que se manifestou contra a anistia (aos envolvidos no 8 de janeiro) durante um show recente de sua banda em Belo Horizonte e recebeu vaias de uma parte do público. Nasi acabou praticamente expulsando os fãs que o vaiaram pedindo que fossem embora e que não comprassem mais os seus discos ou frequentassem os shows.
Indagado se ele acha que falta mais posicionamento dentro da música brasileira, Nando respondeu:
“Eu me recuso a ficar numa posição de militância e numa posição aonde eu julgo o que os outros pensam e o que outros fazem, até por uma questão ética. Eu tenho uma posição que eu acho que… Eu acho que eu sou coerente com alguns valores que eu sempre tive, de respeito, de convivência com a diversidade, de inconformismo com a desigualdade social, com ser antirracista, ser antimachista, identificar tudo o que é, e que vai se desmascarando e se desmontando na sua compreensão do que é o Brasil. E nesse mundo maluco das redes sociais, dessa realimentação que esvazia completamente o próprio discurso, o próprio diálogo entre as pessoas, e ficam esses nichos estagnados nas suas certezas ocas. Essa questão de se posicionar ou não se posicionar tem um lado que é até inteligente de quem não se posiciona, porque isso é inócuo. Eu já me posicionei e me posiciono. Hoje, eu tento sair dessa esfera da superficialidade de se falar para quem não ouvir, e isso só gera um desgaste, e um ataque, uma violência, que é muito ruim. Então eu posso entender uma pessoa que não quer se meter nesse negócio.”
Questionado se o clima político hoje é pior que na época que as bandas de rock lutavam contra a ditadura nos anos 80, Nando disse:
“Eu acho que é diferente. Eu não posso dizer que é pior porque houve se você falar sobre a ditadura, houve uma repressão f*did*, tortura. E é justamente isso que a gente não pode aceitar e normatizar esse pensamento que muitas vezes é ignorante, as pessoas falam coisas que elas não têm noção do que aquilo significa. Então é essa boçalidade que fica de ambos os lados também, vamos deixar bem claro. Tem coisas que são inaceitáveis, e tem momentos que eu acho que no governo anterior a gente tinha uma coisa muito violenta em curso que era preciso… Principalmente minha categoria que foi muito atacada, eu sou caluniado até hoje, é um negócio inacreditável, porque vai numa área que eu acho muito desrespeitosa e me deixa indignado, porque vira uma pecha adotada como uma verdade.
Eu sou trabalhador, eu trabalho desde os dezenove anos, seriamente, honestamente, pago uma quantidade de impostos, e todas essas bobagens que vem e que vão se sedimentando, é um pé no saco, porque eu tenho que lidar por causa do meu trabalho, com essa questão de rede social e você tem que acabar se blindando e fazer uma medição do que vale a pena e o que não vale a pena. Não dá para falar com uma parede, não há discurso, não há disposição, então eu me retiro. Mas nessa questão, é óbvio que se você me perguntar, eu tenho uma posição, e é uma posição claríssima. E justamente, não se pode achar que é normal ter intervenção militar, e pessoas que tentaram dar um golpe, então ponto final. Tem que julgar, tem que fazer os processos corretos, mas assim, porra, fica tudo muito confuso, como foi a lava-jato, onde se adotou um olhar contra a corrupção que só foi ruim, na verdade normalizou a corrupção porque a forma como aquilo foi tratado do ponto de vista da investigação legal, ficou completamente comprometida. É um histórico de dez anos, impeachment, de coisas muito pesadas e sérias que tiveram consequências muito dramáticas.
Reduzir isso à “eu sou contra você” e “você é mamador da Lei Rouanet” é um saco, então de certa maneira, eu não quero falar sobre isso, chega.”
Confira na íntegra a entrevista de Nando Reis ao Tomando Uma Água: