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Nefarious: uma obra profundamente perturbadora | Crítica

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No último dia 02 de novembro, estreou nos cinemas “Nefarious”, longa-metragem escrito e dirigido pela dupla Chuck Konzelman e Cary Solomon (Deus Não Está Morto, Você Acredita?), que estreou nos Estados Unidos em 14 de abril, mas somente este mês chegou às salas de cinemas aqui do Brasil.

Classificado como “terror cristão”, o filme transita entre dois temas que mexem com nosso imaginário, levando-nos a refletir sobre serial killer e possessão demoníaca. Em especial, no primeiro caso, onde quase sempre nos tornamos juízes em busca da condenação imediata sem nos importar (e de fato não importa) com as causas que levam, ou levaram os assassinos a cometerem crimes hediondos e brutais.

Embarcando na história de “Nefarious”, mergulhamos em um estado de dúvidas e incertezas passando também pela culpa e redenção, ao mesmo tempo em que passamos de advogados para acusadores, e tudo isso graças a carga emocional de um thriller que entrega ao telespectador o malhete (martelo usado pelos juízes) para que ele seja o grande responsável pelo veredicto final.

Baseado no livro “A Nefarious Plot” (2016) do escritor americano Steve Dace, o longa é estrelado por Jordan Belfi e Sean Patrick Flanery.

O filme narra a história de um serial killer, Edward Wayne Brady (Patrick) condenado à cadeira elétrica acusado de assassinar pelo menos seis pessoas.

Após a misteriosa morte do Dr. Alan Fisher (Mark De Alessandro), psiquiatra do centro de detenção onde Edward encontra-se detido, entra em cena o Dr. James Martin (Belfi) médico psiquiatra cuja missão é fazer uma última avaliação sobre as condições mentais de Edward, a fim de descobrir se ele sofre de alguma insanidade mental ou se de fato é o assassino frio e calculista o qual assume sem nenhum pudor todos os crimes cometidos. Esta avaliação será definitiva e garantirá a vida, ou a morte de Edward Wayne Brady.

Enquanto o Dr. James estuda o comportamento e o estado estado mental do prisioneiro através de perguntas, Edward que agora assume papel de Nefarious, um dos pupilos de Lúcifer, começa a desafiar o médico com narrativas de que é possuidor do corpo de Edward, e que sua missão na terra é destruir aquilo que Deus criou. Ou seja, há um plano para que uma guerra entre Deus e o Diabo seja travada, já que segundo ele (Nefarious) uma legião de outros demônios fará o mesmo em um mundo onde o mal já está está instalado.

Sentados numa sala de interrogatórios, médico e prisioneiro travam uma batalha de diálogos cheios de dúvidas e incertezas. Ao mesmo tempo, Edward revela que o médico será o responsável por três mortes após deixar a prisão, e que no futuro ele escreverá um livro chamado “The Dark Gospel”, uma enciclopédia voltada ao satanismo que será um sucesso de vendas.

James por sua vez desafia o poder de Nefarious ao pedir que ele possua seu corpo, assim como fez com Edward. Ao desafiá-lo e perceber que isso não acontece, o médico revela seu ateísmo ao demônio dizendo claramente que não pode acreditar em seu poder, desafiando-o a cada momento.

Em um embate de diálogos com um teor mais tenso e sombrio, Nefarious começa a revelar detalhes particulares da vida pessoal de James. Como por exemplo, a acusação da eutanásia de sua mãe, condenada à morte por se encontrar em estado terminal.

No entanto, e sob a visão do demônio, tal decisão favorece financeiramente o médico que herdaria diretamente uma fortuna deixada por sua mãe. Ou ainda quando ele relata sobre o aborto que sua namorada sofrerá, interrompendo assim o nascimento de seu filho, e que a morte de criança seria comemorada em festa no inferno.

Ainda dentro do centro de detenção, o médico tenta contato com sua namorada, porém descobre que ela acabara de dar entrada no hospital e que sofrera um aborto.

No desenrolar dos fatos, e entre diálogos intensos, em dado momento supõe-se que Nefarious dê permissão para que Edward reassuma seu corpo, e é exatamente neste momento onde a carga de emoção se faz presente, haja visto que Edward insiste em não lembrar o por quê, e o que levou a cometer tais assassinatos, ao mesmo tempo em que aos prantos e jurando inocência pede clemência ao implorar por sua vida, e para ser poupado do corredor da morte.

É neste momento em que o Dr. James precisa ser enfático em suas análises, e tentar descobrir se no longo diálogo ele esteve diante um homem supostamente possuído, ou de um assassino, cabendo a ele atestar sem nenhuma dúvida a capacidade psíquica de Edward/Nefarious.

Sua decisão será determinante para os dias vindouros de Edward, que se comprovado de que é um homem mentalmente doente, será poupado da cadeira elétrica. Porém, se estiver fingindo algo como possessão maligna, então é certo de que será executado.

Nefarious (o filme) integra aquelas histórias onde o telespectador é convidado a ser o juiz, haja visto que no desenrolar da trama e diante as reações de Edward que chora desesperadamente clamando por perdão, e num estalo de dedos transforma-se em um blasfemador despejando palavras nefastas ao mesmo tempo em que profere trechos da Bíblia Sagrada, começamos avaliar sua capacidade psíquica, e sem perceber já estamos envolvidos em um mar de dúvidas e incertezas sobre o personagem, que lá no princípio desejamos sua morte. Mas, estes sentimentos começam a mudar dentro de nós.

Uma sacada interessante no longa são os diálogos inteligentes e muito bem interpretados por Patrick (Edward) e Belfi (Dr. James), bem como a rapidez com que as tomadas de câmeras são utilizadas, focando diretamente em cada personagem e seus diálogos fascinantes. Em especial, as gesticulações e expressões faciais de Patrick, que nos remete instantaneamente às falas frias e sarcásticas do “Coringa”, na interpretação magistral de Joaquin Phoenix.

Estas referências são similares até mesmo nos “tiques nervosos” do personagem Edward, quando os diálogos ficam mais intensos.

Por ser um filme de baixo orçamento, haja visto a cenografia pequena já que quase tudo acontece dentro de uma sala, no caso a cela onde encontram-se os personagens principais, “Nefarious” mostra que é possível se desprender dos grandes cenários, e fugir principalmente dos excessos bem como dos famigerados (e às vezes desnecessários) efeitos especiais.

Outro ponto positivo o qual merece destaque está em sua duração. Distribuído em apenas 93 minutos, “Nefarious” nos priva de diálogos entediantes, maçantes e cansativos, muito em voga nos filmes atualmente, não se estendendo em falas desnecessárias, usando assim o tempo como algo que lhe favorece.

Por trazer em seu enredo “possessão” como palavra-chave, o longa não bebe na fonte de filmes como “O Exorcista” por exemplo, seguindo um caminho diferente de tantos outros que copiam sem nenhum pudor cenas similares, ou usufruem dos mesmos efeitos usados principalmente nas falas proferidas pelo interprete do demônio, por exemplo. Em nenhum momento temos aquelas cenas clichês onde o personagem principal é possuído.

Ao contrário, aqui a chamada possessão é tão somente falada e mostrada através dos diálogos ríspidos, firmes e definitivos do personagem principal, se ausentando totalmente de tudo aquilo que estamos acostumados a ver em filmes do gênero.

Por fim, “Nefarious” mergulha em temas importantes e relevantes que vão desde a existência de Deus e do Diabo, a luta entre o bem e o mal, passando por sentimentos como culpa, perdão, redenção, além do velho embate entre ciência e religião.

Recepção da crítica e do público:

Assim como aconteceu com o “Som da Liberdade”, “Nefarious” também recebeu críticas ácidas e avaliações abaixo da média dos “críticos especializados”. No entanto, na avaliação do público, o longa-metragem obteve excelente receptividade contabilizando 96% de aprovação.

Ainda sobre o sucesso, a distribuidora anunciou que o filme faturou 7 milhões de dólares em receita digital desde 2 de junho de 2023, quando saiu através de vários distribuidores Premium VOD como iTunes, Google e Amazon.

Enquanto isso, Jeff Walker, CEO da Alliance Entertainment comentou sobre o sucesso do longa em VOD:

“Nefarious é nosso maior lançamento até o momento e as vendas digitais que gerenciamos neste título foram excepcionais”.

N do R: os números atuais envolvendo as bilheterias indicam que assim como o livro, o longa conseguiu números expressivos e satisfatórios, bem como mais uma vitória perante as tentativas de boicotes. Enquanto o público estiver à frente e não se deixar levar por críticas infundadas e visivelmente “financiadas”, filmes como o Som da Liberdade, Deus Não Está Morto e Nefarious, mostrarão que a velha crítica que um dia demos créditos já não dita regras há muito tempo (felizmente).

Redigido por Geovani “Gigio” Vieira.

Ficha Técnica:
Título Original: Nefarious
Ano de Lançamento: 2023
Direção e Roteiro: Chuck Konzelman, Cary Solomon
Elenco: Sean Patrick Flanery, Jordan Belfi, Tom Ohmer, Glenn Beck, James Healy Jr., Stelio Savante, Cameron Arnett, Mark De Alessandro.
Gênero: Suspense, Terror, Drama
Nacionalidade: EUA.
Distribuição: A2 Filmes.
Duração: 93 min.

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